Culpa materna não é fraqueza: é um sinal de alerta para a saúde mental

No Setembro Amarelo, precisamos falar sobre como a culpa pode evoluir para depressão pós-parto

Rafaela Schiavo* Publicado em 15/09/2025, às 06h00

Uma rede de apoio para mães pós-parto pode salvar vidas - pexels

Entre tantas emoções que atravessam a maternidade, a culpa é uma das mais presentes. Ela aparece cedo, ainda na gestação, e acompanha muitas mulheres no pós-parto. Culpa por não conseguir amamentar como gostaria, por voltar ao trabalho, por sentir cansaço, por não se sentir feliz o tempo todo. Esse sentimento, tão comum e normalizado, pode se transformar em gatilho para transtornos emocionais graves. É por isso que, neste Setembro Amarelo, quero falar sobre a culpa materna e sua relação com a saúde mental.

A culpa materna não é apenas um desconforto passageiro. Quando se intensifica, pode evoluir para quadros de ansiedade, estresse e depressão perinatal. Pesquisas mostram que uma em cada quatro mulheres desenvolve depressão nesse período e que mães com depressão ou psicose têm risco até 17 vezes maior de apresentar ideias suicidas. São números que não podemos ignorar. Falar de maternidade é também falar de prevenção ao suicídio.

O problema é que, muitas vezes, a própria sociedade reforça essa culpa. Comentários como “seu leite não sustenta” ou “no meu tempo era diferente” fragilizam a mãe em vez de apoiá-la. A falta de rede de apoio, a sobrecarga de tarefas e o silêncio em torno das emoções só ampliam o sofrimento. Ao invés de ajudar, esse contexto faz com que muitas mulheres se sintam sozinhas, julgadas e incapazes.

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Reconhecer a culpa como sinal de alerta é o primeiro passo. Quando ela toma conta do dia a dia, quando o choro é frequente, o sono não vem, a ansiedade não passa e os pensamentos de morte surgem, não se trata de fraqueza ou de falta de fé. São sinais de que a saúde mental precisa de cuidado especializado. Nesse momento, procurar um psicólogo perinatal, um psiquiatra ou um grupo de apoio pode salvar vidas. Buscar ajuda não é falha, é coragem.

Também acredito que pequenas mudanças no entorno fazem diferença. Uma rede de apoio efetiva não julga, não invade e não cobra perfeição. Ela oferece comida quente, escuta sem críticas, respeito aos limites e ajuda prática nas tarefas do dia a dia. É isso que fortalece a mãe para que ela consiga viver a maternidade sem se sentir anulada.

O Setembro Amarelo nos lembra que falar salva vidas. E, quando o assunto é saúde mental materna, não podemos deixar a culpa crescer no silêncio. Ela não é sinal de fraqueza. É um pedido de ajuda. Precisamos escutar, acolher e cuidar. Porque quando cuidamos de uma mãe, também protegemos o bebê e toda a família.

 

*Rafaela Schiavo é Psicóloga Perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline

*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres

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