A crescente preocupação com intervenções estéticas ilegais e a importância da qualificação profissional
Luanna Caires Portela* Publicado em 31/07/2024, às 06h00
A morte recente de dois pacientes submetidos a procedimentos estéticos trouxe à tona um problema recorrente no Brasil: a alarmante oferta de tratamentos dermatológicos cosmiátricos e invasivos por profissionais não médicos.
Esses processos têm gerado insegurança, mas a percepção é de que, apesar dos alertas sobre prejuízos à saúde, há um aumento de relatos de dermatologistas e cirurgiões plásticos sobre atendimentos a pacientes com complicações causadas após atos realizados por pessoas sem formação em medicina. Dentre os efeitos adversos possível estão: intoxicações anestésicas, anafilaxia, alergias, manchas, infecções, cicatrizes permanentes, hematomas, cegueira irreversível, acidente vascular cerebral, embolia e risco de morte.
De acordo com as entidades médicas, a realização de procedimentos estéticos invasivos deve ser feita somente por profissionais com formação em medicina. É isso que determina a Lei do Ato Médico (12.842/13) que, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), precisa ser observada para evitar riscos de deformidades e mutilações até mesmo em procedimentos de finalidade estética.
Condutas praticadas por indivíduos não médicos e à revelia da lei podem matar e deixar sequelas em troca de promessas de resultados fantásticos.
Os casos citados no inícios deste artigo referem-se a um jovem de 27 anos e uma mulher de 33 anos que fizeram uso de substâncias como o ácido fenol e o PMMA, um preenchimento sintético. Esse último, contraindicado para uso por profissionais sem habilitação médica.
Há anos que entidades ligadas à saúde advertem para o perigo da aplicação de produtos com finalidade estética por não médicos. Em março deste ano, Sociedades Brasileiras de Dermatologia e Cirurgia Plástica do Distrito Federal e outros quatro estados, divulgaram um dossiê de complicações ocasionadas por procedimentos realizados por pessoas sem formação em medicina. O documento chama a atenção para o avanço de intervenções invasivas feitas por profissionais não médicos (fisioterapeutas, enfermeiros, biomédicos, dentistas) e por profissionais do setor de beleza (cabeleireiros, esteticistas).
É notório que os procedimentos invasivos estéticos têm ganhado uma popularidade crescente, impulsionados pelo desejo humano de melhorar a aparência e aumentar a autoestima. Nesse cenário, os dermatologistas e cirurgiões plásticos desempenham um papel crucial como profissionais especializados no cuidado da pele, do rosto e do corpo, não apenas para resultados estéticos satisfatórios, mas também priorizando a saúde, a segurança e o bem-estar dos pacientes.
No âmbito dos dermatologistas, antes dos procedimentos estéticos, os especialistas realizam uma avaliação minuciosa da condição da pele de cada paciente durante uma consulta. Isso é essencial para diagnosticar problemas subjacentes, como condições dermatológicas pré-existentes ou sensibilidades cutâneas que podem influenciar no resultado do procedimento e inclusive algumas condições que contraindicam a realização de procedimentos estéticos. Essa abordagem médica garante que o tratamento escolhido seja adequado e o mais seguro possível.
Além de realizar procedimentos estéticos, os dermatologistas desempenham um papel fundamental na educação dos pacientes sobre cuidados com a pele. Eles oferecem orientações sobre hábitos de cuidado com a pele (skincare), proteção solar e uso de produtos adequados, promovendo uma abordagem preventiva e abrangente para a saúde da pele. A importância de dermatologistas em procedimentos estéticos vai além da busca por beleza superficial, baseados em conhecimento científico e experiência clínica.
Consultar médicos especialistas para fins de rejuvenescimento ou harmonia na aparência, não só proporciona resultados satisfatórios, mas também gera saúde e bem-estar em longo prazo. O paciente pode certificar que um médico é especialista através do número de Registro de Qualificação de Especialidade, o RQE, através de uma consulta simples no site do CRM do médico, no site da sociedade de especialidade do médico (no caso da dermatologista no site SBD.org.br). Portanto, a escolha de um profissional qualificado é essencial para quem deseja obter os melhores resultados com segurança.
*Luanna Caires Portela é presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia do DF.
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