Benefícios da robótica no tratamento cirúrgico da endometriose

A endometriose compromete cerca de 10 a 15% das mulheres no mundo, sendo que no Brasil serão cerca de 7 milhões de mulheres em fase reprodutiva

Rogers Camargo Mariano da Silva* Publicado em 02/03/2024, às 06h00

A endometriose afeta uma a cada dez mulheres entre 25 e 35 anos -

A endometriose é uma doença caracterizada pela presença de tecido semelhante ao endométrio em um local ectópico (fora da cavidade uterina), sendo o local mais frequente a pelve. Porém, na literatura médica existem descrições da presença deste tecido em locais distantes, como pulmão e cérebro - o que acontece em situações raras.

A teoria mais utilizada para explicarmos a ocorrência da doença é a Teoria da Menstruação Retrógrada – criada pelo médico John Sampson, na qual parte do produto menstrual reflui para a cavidade abdominal pelas tubas uterinas, sendo que este tecido se fixaria nas regiões onde futuramente teremos as lesões de endometriose, mas existem inúmeras teorias para explicar a ocorrência desta doença que compromete inúmeras meninas e mulheres no Brasil e no mundo.

Em termos de incidência, a endometriose compromete cerca de 10 a 15% das mulheres no mundo, sendo que no Brasil serão cerca de 7 milhões de mulheres em fase reprodutiva; 80% das mulheres que apresentam dor pélvica crônica, ou seja, dores que duram por pelo menos seis meses; e 40 a 50% dos casais heterossexuais com infertilidade também são acometidos pela doença.

A base da patologia envolve o processo inflamatório relacionado ao foco ectópico do endométrio, portanto os principais sintomas são dolorosos, entre eles estão a cólica menstrual, dor nas relações sexuais, dor pélvica, dor ao urinar, dor na evacuação, sangramento uterina abundante, infertilidade, cansaço e eventualmente sangramento nas evacuações.

Existem inúmeros fatores que influenciam no desenvolvimento da doença, sendo que alimentação, sedentarismo, exposição ao estresse são os mais frequentes, além do histórico familiar.

O diagnóstico de endometriose é dado principalmente pela sintomatologia, mas é necessário que estas mulheres portadoras de dor pélvica crônica ou as que apresentem infertilidade sejam avaliadas por um ginecologista e que realizem exames específicos, como a ressonância magnética de pelve e eventualmente a de abdome total e tórax também. Para as mulheres que já iniciaram a vida sexual é importante a realização da ultrassonografia transvaginal para mapeamento da doença.

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Quanto ao tratamento, temos o clínico e cirúrgico, sendo que o primeiro está relacionado ao uso de medicações hormonais tentando inibir o ciclo menstrual. Já o tratamento cirúrgico depende de inúmeros fatores como idade, desejo reprodutivo, comprometimento pélvico, podendo ser conservador ou mais radical (esta avaliação deve ser individual e personalizada). O consenso de todos os protocolos internacionais e nacionais é que a via de abordagem mais indicada é a minimamente invasiva (videolaparoscopia convencional ou videolaparoscopia robótico-assistida). A cirurgia convencional (laparotomia) está reservada para as lesões de endometriose que comprometam a parede abdominal, como nos casos de cicatriz da cesariana ou cicatriz umbilical.

A abordagem robótico-assistida é realizada seguindo inicialmente os princípios da cirurgia por vídeo, o cirurgião tem visão privilegiada associada ao recurso dos dispositivos articulados (com movimentos mais amplos que as mãos humanas) permitem que o especialista tenha muito mais precisão e maior controle do sangramento. Desta forma, a paciente terá menos dor no pós-operatório, o tempo de recuperação será reduzido, bem como o risco de partir para a cirurgia convencional aberta.

Especialmente nos grandes centros temos observado a utilização crescente da ferramenta robótica no tratamento da endometriose, bem como em outras patologias. Para termos uma ideia do crescimento ao acesso à cirurgia robótica no Brasil, em 2016 tínhamos 22 plataformas robóticas no país inteiro, hoje são mais de 100 robôs no território brasileiro.

Para finalizar, precisamos cada vez mais difundir o conhecimento a respeito dos sintomas para que possamos diagnosticar a endometriose de forma mais precoce, e que possamos ter a oportunidade de intervir precocemente diminuindo o impacto na qualidade de vida destas meninas e mulheres.

*Dr. Rogers Camargo Mariano da Silva, médico do corpo Clínico do Hospital e Maternidade Santa Joana e detentor de uma das maiores casuísticas no tratamento da doença por meio da abordagem robótica assistida da América Latina.

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