Estudo mostra como problemas financeiros influenciam a qualidade de vida das pessoas
Thiago Godoy* Publicado em 18/09/2024, às 06h00
O que vem à sua cabeça quando falamos de autocuidado? A maioria das pessoas pensam em atividades como meditação, exercícios físicos ou até momentos de lazer. Mas um aspecto muitas vezes negligenciado desse cuidado é a gestão financeira. Assim como a saúde mental, a saúde financeira é fundamental para promover o bem-estar. E o impacto de uma na outra é tão profundo que, ao ignorar as finanças, podemos comprometer seriamente nossa estabilidade emocional.
A ligação entre os dois pode ser sutil, mas as consequências são visíveis. A pressão de lidar com dívidas, incertezas econômicas e o custo de vida pode gerar altos níveis de estresse e ansiedade. Segundo a OMS, problemas financeiros são um dos principais causadores de ansiedade e depressão.
Por outro lado, o estado mental também interfere diretamente nas decisões financeiras. Pessoas que atravessam momentos de fragilidade emocional tendem a tomar decisões financeiras repentinas. Gastos compulsivos, negligência no planejamento financeiro e a procrastinação em relação às dívidas são alguns comportamentos comuns em quem está emocionalmente sobrecarregado.
Recentemente, a Serasa e o Instituto Opinion Box realizaram uma pesquisa com mais de 1700 pessoas. Intitulado “O Impacto das Finanças na Saúde Mental do Brasileiro”, o estudo revelou que 67% dos entrevistados sofrem com problemas financeiros que afetam a qualidade de vida. Além disso, 64% disseram ter altos níveis de estresse, fadiga e insônia, 60% tiveram questões com a autoestima e 55% apresentaram perda na qualidade do sono.
A produtividade também deve ser um ponto de atenção. O estudo mostra que 76% passam boa parte do tempo pensando nas dívidas e isso reduz o desempenho no trabalho.
Mas a pesquisa também mostrou bons índices: 86% dos entrevistados acreditam que cuidar da saúde mental pode trazer benefícios financeiros a longo prazo.
Antes de realizar qualquer compra ou investimento, faça uma pausa e reflita. Essa prática ajuda a evitar decisões baseadas em impulsos, que geralmente resultam em arrependimento e problemas futuros.
Aprender a distinguir o que é essencial do que é supérfluo pode ajudar a focar nos objetivos principais e evitar gastos desnecessários. Um bom planejamento de prioridades evita acúmulo de dívidas e promove uma vida financeira mais saudável.
A busca constante por conhecimento financeiro é essencial. Compreender conceitos básicos como orçamento, poupança e investimento permite maior controle sobre as finanças e proporciona mais tranquilidade em momentos de crise.
A pesquisa da Serasa indicou que sete em cada dez brasileiros evitam falar sobre sua situação financeira, porém, quebrar o tabu em torno dessas conversas pode ser transformador. Compartilhar preocupações com amigos, familiares ou profissionais pode trazer novas perspectivas e soluções que não estavam sendo consideradas.
Autocuidado não é apenas sobre o presente, mas também sobre preparar-se para o futuro. Assim como investir em terapia ou momentos de descanso ajuda a melhorar o estado emocional, a educação e o planejamento financeiro são chaves para garantir estabilidade a longo prazo. Quando se tem clareza sobre o orçamento, como poupar e investir, a sensação de controle aumenta e o estresse diminui.
Segurança financeira não significa necessariamente acumular grandes riquezas, mas sim gerenciar de forma eficaz o que se tem. Quando criamos uma reserva de emergência, estabelecemos metas e seguimos um plano, não apenas protegemos nossas finanças, mas também prevenimos o desgaste emocional que vem com a incerteza econômica.
A conexão entre finanças e emoções não pode ser ignorada. Ao tratar a gestão financeira como uma parte essencial do autocuidado, damos um passo importante em direção a uma vida mais equilibrada e satisfatória. Assim como o cuidado com a mente e o corpo, cuidar das finanças promove bem-estar e segurança para o futuro.
É importante que cada um se comprometa com esse cuidado integrado, buscando não apenas gerenciar melhor seus recursos financeiros, mas também entender como as emoções impactam nas decisões. Afinal, a verdadeira saúde – seja ela mental ou financeira – exige atenção, disciplina e, sobretudo, conhecimento.
Quando equilibramos as duas áreas, estamos mais preparados para lidar com os desafios da vida e construir um futuro mais próspero e feliz.
*Thiago Godoy é mestre pela FGV, onde estudou 400 famílias endividadas para entender as origens comportamentais e emocionais do desequilíbrio financeiro. Ele também é autor do best-seller “Emoções Financeiras”, palestrante duas vezes do TEDx e colunista no portal InfoMoney e na revista Vida Simples. Com 10 anos de experiência na área, foi Head da XP por 4 anos e liderou a Mobilização de Recursos e Relações Governamentais na Associação de Educação Financeira.
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