Mortalidade materna: principais causas e ações necessárias para reduzi-la

28 de maio é dia nacional de redução da mortalidade materna

Dr.Mário Kondo* Publicado em 28/05/2024, às 16h40

É urgente evitar a mortalidade materna -

Em pleno século XXI, com imensos avanços no conhecimento e na tecnologia disponível para melhoria das condições de saúde da população, a mortalidade materna continua alta e gera alertas. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), todos os dias em todo o mundo morrem cerca de 830 mulheres por complicações decorrentes da gravidez ou do parto.

No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) registrou no período de 2015 a 2019 a morte de 1.650 mulheres por ano. As causas diretas – aquelas que ocorrem por complicações obstétricas durante a gravidez, o parto ou o puerpério – respondem por 70% da mortalidade, entre elas estão as síndromes hipertensivas como pré-eclâmpsia e eclâmpsia, hemorragia pós-parto, infecção puerperal e complicações em casos de aborto. Já as causas indiretas são aquelas doenças pré-existentes ou que se devolveram durante este período e que não foram provocadas por causas obstétricas diretas, como cardiopatia, pneumopatia e infecção.

Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de mortalidade materna no Brasil retornou aos patamares pré-pandemia, sendo que após atingir a taxa de 117 mortes por 100 mil nascidos vivos em 2021 voltou a 57 em 2022 – índice similar ao ano de 2019. Entretanto, ainda está longe da meta da OMS. A média mundial é de 223 mortes para cada 100 mil partos e a taxa de morte materna da Europa Ocidental é de 8 para cada 100 mil partos. No Grupo Santa Joana, composto pelos hospitais e maternidades Santa Joana, Pro Matre Paulista e Santa Maria, por exemplo, este número é ainda mais baixo, sendo de 5 a cada 100 mil de causas gerais e, há anos, zero morte materna por hemorragia, que ainda é uma das principais causas de morte materna evitável no Brasil.

 

Veja também

Diante deste cenário, se faz necessário buscar alternativas para mudar essa triste realidade em um momento que deveria ser seguro, humanizado e muito feliz. Para reduzir o quadro de mortalidade materna, as principais estratégias são melhorar o pré-natal com acesso universal e protocolos de atendimento bem definidos, além de dar atenção especial a grupos vulneráveis e à saúde mental da gestante e puérpera. É importante contar com uma rede de referência e contrarreferência entre unidades de saúde e maternidades seguras que tenham Banco de Sangue e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para os recém-nascidos e as mães.

Não pode-se deixar de citar o treinamento e capacitação constante da equipe em laboratório de habilidades e simulação realística, com ênfase nas síndromes hipertensivas com o uso do sulfato de magnésio, que reduz a taxa de convulsões recorrentes a dois terços e a taxa de morte materna a um terço, bem como em casos das hemorragias pós-parto com os procedimentos medicamentosos e cirúrgicos e na infecção grave com protocolo definido de sepse com a administração de antibiótico na primeira hora do atendimento.

Os protocolos se bem utilizados salvam vidas, assim como as campanhas de conscientização da população sobre a saúde materno infantil, como a celebrada neste Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, que são importantes para dar visibilidade ao tema e garantir a saúde e o bem-estar das mamães e seus bebês.

 

* Dr. Mário Macoto Kondo é coordenador de Obstetrícia de Alta Complexidade do Grupo Santa Joana

violência obstétrica parto gravidez de risco morte materna

Leia mais

Como a maternidade pode afetar a saúde mental?


Documentário mostra como El Salvador conseguiu diminuir a violência obstétrica


Morte materna no Brasil volta ao patamar de 20 anos atrás


A história de Ève: "Eu sabia que nunca escutaria a voz da minha filha"


Me Too Brasil apoia Shantal Verdelho e entra na luta por lei que criminaliza a violência obstétrica