A relação entre estilo de vida e fertilidade ganha destaque em meio ao declínio global das taxas de natalidade
Redação Publicado em 07/10/2025, às 06h00
O declínio nas taxas de natalidade tem preocupado autoridades e profissionais de saúde ao redor do mundo, e o Brasil não foge à regra. Dados do Censo Demográfico de 2022 do IBGE mostram que a taxa de fecundidade no país caiu para 1,55 filhos por mulher, número inferior à taxa de reposição populacional, que é de 2,1. Globalmente, a tendência é semelhante: segundo estudo da Fiocruz, baseado em dados do Global Burden of Diseases (1950–2021), a taxa média de fertilidade deve cair para 1,83 até 2050 e chegar a 1,59 em 2100. Diante desse cenário, especialistas vêm reforçando a importância do estilo de vida como fator decisivo para a saúde reprodutiva.
De acordo com a Dra. Taciana Fontes Rolindo, ginecologista e especialista em reprodução humana, é cada vez mais evidente que hábitos cotidianos como alimentação, controle do peso, prática de exercícios físicos, tabagismo e até mesmo o sono influenciam diretamente a fertilidade tanto de mulheres quanto de homens. “Não há substituto para um estilo de vida saudável quando falamos de fertilidade”, afirma a médica. Ela explica que, muitas vezes, casais buscam tratamentos de reprodução assistida sem antes terem feito ajustes essenciais em sua rotina, o que pode comprometer o sucesso das intervenções.
O excesso de peso, por exemplo, é um dos principais vilões. Pesquisas recentes mostram que mulheres com sobrepeso têm até 25% menos chances de engravidar do que aquelas com peso adequado, e esse índice pode chegar a uma redução de 50% nos casos de obesidade. Nos homens, o acúmulo de gordura afeta negativamente a produção hormonal, a qualidade do sêmen e até o volume testicular. O tabagismo também representa um fator crítico: mulheres fumantes tendem a apresentar redução da reserva ovariana e antecipação da menopausa, enquanto, nos homens, o cigarro prejudica a motilidade e a quantidade dos espermatozoides, além de aumentar o estresse oxidativo, que pode causar danos ao DNA espermático.
Apesar do foco frequentemente recair sobre a mulher, a fertilidade masculina também sofre impactos significativos com o estilo de vida. A alimentação inadequada, o sedentarismo, o estresse crônico e noites mal dormidas influenciam diretamente a qualidade dos gametas e o equilíbrio hormonal. Segundo a Dra. Taciana, essas alterações muitas vezes são subestimadas. “O melhor tratamento de reprodução assistida tem muito mais chance de sucesso se o casal já iniciou mudanças importantes no seu cotidiano. Perder peso, parar de fumar, rever a dieta e cuidar do sono são atitudes fundamentais”, defende.
Além das escolhas individuais, a especialista reforça que é urgente o investimento em políticas públicas voltadas à conscientização da população. Informações sobre o impacto do estilo de vida na fertilidade ainda não fazem parte da rotina dos atendimentos de saúde básica, o que dificulta a prevenção. “Muitas pessoas chegam ao consultório em estágios avançados de infertilidade, quando a reserva ovariana já está baixa ou quando a qualidade do sêmen está bastante comprometida. Quanto mais cedo essas mudanças acontecerem, idealmente anos antes de tentar engravidar, maiores as chances de sucesso, inclusive de uma concepção natural”, destaca.
Em um momento em que o adiamento da maternidade e da paternidade se torna uma realidade crescente, o alerta dos especialistas ganha ainda mais relevância. O estilo de vida moderno, marcado pelo sedentarismo, estresse e má alimentação, pode estar reduzindo silenciosamente as chances de formar uma família. “Cuidar do corpo e da saúde deve vir antes de, ou junto com, qualquer plano reprodutivo”, conclui a Dra. Taciana Fontes Rolindo.
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