Líder Yanomami Davi Kopenawa na Universidade de Princeton, EUA: “Queremos apoio do presidente Biden”

Kopenawa também cobrou providências imediatas do governo Federal para a retirada dos garimpeiros das terras indígenas: "Lula precisa cumprir sua palavra"

Mariana Kotscho, de Princeton, EUA* Publicado em 01/02/2023, às 15h23

Davi Kopenawa conversa com Christopher Eisgruber, presidente da Universidade de Princeton, e João Biehl, diretor do Brazil LAB e do departamento de Antropologia da Universidade de Princeton - Foto: Rodrigo Simon

O líder indígena e principal porta-voz do povo Yanomami, Davi Kopenawa, de 66 anos, foi recebido ontem na Universidade de Princeton, NJ, nos Estados Unidos, onde discursou para uma platéia lotada, formada por professores e estudantes, entre eles alunos indígenas norte-americanos.

Na abertura do evento, que durou pouco mais de uma hora e meia, Kopenawa falou em Yanomani e disse que está de luto pelas centenas de mortes que aconteceram nos últimos anos nas aldeias de Roraima, incluindo mais de 570 crianças. A visita do líder, marcada há bastante tempo, acabou coincidindo com o momento em que o mundo assiste às imagens chocantes das condições do povo Yanomami em Roraima, no norte do Brasil.

 

Eu tô de luto, meu povo Yanomami está doente e morrendo. As crianças adoecem pela doença do homem branco, que entra com os destruidores. Malária, gripe, diarréias, verminoses, coronavírus e outras. Destroem nossa comunidade e nossa floresta. É muito triste. Se você olhar de perto, você vai chorar. Não estou falando mentira, é verdade. Sou de lá, minha casa é lá”. (Davi Kopenawa)
Davi Kopenawa em Princeton. Foto: Edouard Caupeil

 

No discurso, que seguiu em português (com tradutora em inglês), Kopenawa afirmou que os Yanomami foram abandonados durante os 4 anos de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, quando o avanço do garimpo ilegal ocupou as terras indígenas levando destruição, fome e doenças. Segundo ele, há pelos menos 70 mil garimpeiros na região.

 

Aumentou o preço do ouro, aumentou número de garimpeiros. Para nós, indígenas, o ouro não é nada. É uma pedra, a gente não come. Eu preciso de apoio à luta Yanomami”. (Davi Kopenawa)

 

Assista ao discurso completo de Davi Kopenawa em Princeton

Kopenawa também cobrou o presidente Lula para que o atual governo tome medidas imediatas para expulsar os garimpeiros das terras Yanomami.

É urgente, é pra hoje, não dá para esperar. Lula foi lá e fez um discurso prometendo tirar os garimpeiros e precisa cumprir sua palavra”, exigiu o indígena.

 

O povo Yanomami protege a Floresta Amazônica, que é importante para o mundo inteiro”. (Davi Kopenawa)

 

No final do discurso, Davi Kopenawa pediu aos estudantes e professores da Universidade de Princeton que enviem uma carta ao presidente norte-americano, Joe Biden, solicitando que ele se posicione em apoio à causa Yanomami e em defesa da floresta Amazônica: “O mundo precisa ouvir este grito de socorro”, disse o porta-voz do povo Yanomami, que já discursou na sede da ONU em NY, onde recebeu, em 2019, um prêmio por seu trabalho e luta.

 

Vou pedir ajuda de vocês pra fazer uma carta para enviar para o presidente americano, daqui. Isso que eu preciso. Pra ele também escutar e sentir vontade de dar valor para meu povo Yanomami, vontade de proteger e preservar nossa comunidade e nossos rios limpos." (Davi Kopenawa)

 

A Universidade de Princeton, na cidade de Princeton, estado de Nova Jersei, nos Estados Unidos, fica a uma hora de carro da cidade de Nova Iorque. É uma das 10 mais importantes e respeitadas universidades do mundo, onde Albert Einstein foi pesquisador. Ela faz parte da Ivy League, um grupo formado pelas 8 universidades mais antigas dos Estados Unidos. Princeton é de 1746.

O evento foi organizado pelo Brazil LAB de Princeton, uma iniciativa que reúne professores e pesquisadores que estudam questões ligadas ao Brasil. A Amazônia é um dos principais eixos de pesquisa e, consequentemente, a causa Yanomami faz parte disso. Kopenawa foi recebido pelo presidente da Universidade, Christopher Eisgruber.

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Davi Kopenawa, que é autor do livro A queda do Céu, sobre a história dos Yanomami e de sua importância para a defesa da floresta, foi aplaudido de pé em Princeton, agradeceu o interesse da Universidade pela causa e, antes de ir embora, disse: “O povo Yanomami quer recuperar sua terra e sua saúde”.

O líder indígena seguiu para NY onde, sexta-feira, participa de inauguração da exposição The Yanomani Struggle (A Luta Yanomami), com obras de artistas Yanomami e fotos de Cláudia Andujar, de 91 anos, que, desde os anos 70, acompanha a vida deste povo. A fotógrafa também está em NY para a exposição, que acontecerá no Museu The Shed. É a maior exposiçãoo de arte indígena brasileira já realizada nos Estados Unidos.

 

*Mariana Kotscho é jornalista, comentarista da Rede Globo, mentora de curso para jornalistas da Universidade de Columbia e, atualmente, mora e trabalha como correspondente nos Estados Unidos.

 

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