O uso de novas tecnologias na educação sempre foi tema para grandes debates, e com a Inteligência Artificial não seria diferente
Camila Barscevicius* Publicado em 28/02/2024, às 06h00
Na educação, a inteligência artificial (IA) impacta diversos agentes da comunidade escolar. Alunos são beneficiados com chatbots como o ChatGPT, e outras ferramentas generativas, como mostrado pelo estudo de 2023 da Junior Achievement USA. Quase metade dos estudantes entrevistados (44%) afirmavam utilizar IA como apoio em suas tarefas.
Professores observam a simplificação ao aplicar e corrigir atividades, além de facilitar a personalização de ensino aos alunos, como demonstra o crescimento na adoção de plataformas adaptativas. Aqui, há um dado recente da Forbes Advisor apontando que 60% dos professores entrevistados usam a IA em seu dia a dia em sala de aula, desses, mais de 50% para criação de dinâmicas e jogos educacionais, e mais de 40% usam plataformas adaptativas de aprendizagem. Gestores escolares, por sua vez, desfrutam de sistemas consolidados para notas, avaliações e controles administrativos.
Quando olhamos para o uso nas secretarias de educação, estas encontram na inteligência artificial uma aliada poderosa para potencializar os sistemas de matrículas, integrando ao planejamento de oferta de rede, incluindo análises preditivas de demanda atreladas ao georreferenciamento das unidades, alocação eficiente de professores - uma dor muito relevante das grandes redes que necessitam unir muitas variáveis a fim de definir a grade horária de seus alunos e docentes - e também na identificação de prioridades de formação, unindo os resultados dos alunos com as necessidades dos professores para ter temáticas de fato relevantes em suas formações continuadas. Todas essas aplicações da IA podem ser utilizadas por meio tanto de ferramentas mais simples quanto de mais complexas, como Redes Neurais e Grafos.
É claro que desafios existem, e nunca podemos esquecer que a educação vai além do ensino e aprendizagem, sendo fundamental reconhecer o seu poder socializador, um aspecto que a tecnologia dificilmente substituirá. Apesar das adversidades, os ganhos observados no uso integrado da tecnologia no setor são enormes, destacando a economia de tempo para os atores envolvidos que deixam de se dedicar a tarefas de cunho muito operacional. Isso permite que os professores concentram-se em estratégias direcionadas, identifiquem rapidamente as necessidades dos alunos e tenham agilidade para ajustar o curso, tanto no âmbito da sala de aula quanto em escolas e secretarias.
À medida que a inteligência artificial continua a se desenvolver, é fundamental garantir que sua implementação na educação seja realizada de forma ética e equitativa, considerando sempre o impacto humano e social de tais avanços. Em um país tão marcado pela desigualdade como o nosso, onde, segundo o censo escolar de 2023, 11,5% das escolas públicas no Brasil não tinham acesso à Internet, é crucial que o uso de IA na educação não amplifique essa disparidade, evitando distanciar ainda mais os alunos que já têm menos acesso a tecnologias.
Em última análise, o uso de IA na educação deve ser realizado com cuidado e planejamento, focado em atender às necessidades que levam as escolas mais próximas de seu objetivo final de ensino e aprendizagem. Devemos abraçar a inovação, mas sempre lembrando que nenhuma IA pode substituir o poder transformador e socializador da educação.
*Camila Barscevicius é consultora sênior da Peers Consulting & Technology
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