É preciso garantir apoio às famílias que enfrentam os desafios da prematuridade, considerando as vulnerabilidades que cercam essas situações
Denise Suguitani* Publicado em 13/12/2024, às 08h00
A prematuridade é uma realidade que atinge diretamente ao menos 1 em cada 10 nascimentos no Brasil, representando 11% dos partos e impactando cerca de 300 mil famílias todos os anos. Por trás desses números, existem vidas, histórias e desafios que demandam atenção e ação imediata. Essa questão vai além de estatísticas; é um apelo pela proteção da mulher, da maternidade e das formas mais vulneráveis da infância.
No Brasil, o desafio começa na prevenção da gestação na adolescência; 1 em cada 5 bebês nasce de mães adolescentes no país e as complicações da gravidez e do parto são a principal causa de mortalidade entre meninas com menos de 15 anos.
É urgente também um olhar mais atento às políticas de planejamento reprodutivo, ao acesso ao pré-natal e à qualidade do mesmo e à redução de cesarianas desnecessárias. Além disso, é necessário garantir apoio às mães e às famílias, considerando as vulnerabilidades biopsicossociais que frequentemente cercam esses contextos.
Os desafios enfrentados pelos prematuros vão muito além do próprio nascimento. Desde o primeiro momento de vida, esses bebês enfrentam condições que podem comprometer seu desenvolvimento físico, social, emocional e cognitivo ao longo da vida. A presença constante e o cuidado compartilhado com os pais durante internação do prematuro na UTI Neonatal, além de um direito, são essenciais para o desenvolvimento desse bebê, com evidências científicas de neuroproteção, favorecimento do vínculo, mais chances de sucesso na amamentação e alta precoce.
Outro ponto importante para o adequado desenvolvimento do prematuro é a garantia de práticas humanizadas, centradas na família, feitas de forma individualizada para cada bebê, por especialistas, integrando atenção primária em saúde com a atenção hospitalar, conforme diretrizes da nossa Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC).
É igualmente importante cuidar de quem cuida. Profissionais de saúde e assistência social precisam de sensibilização e capacitação diferenciada para lidar com a complexidade dos aspectos envolvidos no cuidado de um prematuro e de sua família. Além disso, o apoio à saúde mental das famílias é fundamental, pois a experiência da prematuridade deixa marcas emocionais de longo prazo.
Diante de tantos desafios, é urgente a construção de um Plano Nacional Intersetorial de Atenção à Prematuridade. Essa proposta busca avaliar as políticas públicas existentes, identificar lacunas e implementar avanços que reduzam os partos prematuros evitáveis e garantam os direitos e os melhores cuidados aos bebês e suas famílias. Entre as prioridades desse Plano estão apoiar a ampliação do acesso e a qualificação do pré-natal, a promoção de partos seguros e respeitosos, a garantia de acesso aos melhores e mais modernos equipamentos, medicamentos e terapias para todos os prematuros, além da equidade no acesso às vacinas específicas para prematuros.
O Plano visa agregar diversos atores para construir planos de ação coordenados e colaborativos, com participação ativa das famílias de prematuros, buscando mitigar iniquidades étnico-raciais, de gênero e geográficas.
Cuidar dos prematuros é, acima de tudo, cuidar do futuro. Eles bebês representam uma parcela significativa das próximas gerações, e garantir seus direitos é investir em um país mais justo e igualitário. A hora de agir é agora, ciência, comprometimento e muita disponibilidade afetiva.
A Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros – ONG Prematuridade.com, é a única organização sem fins lucrativos dedicada, em âmbito nacional, à prevenção do parto prematuro e à garantia dos direitos dos prematuros e de suas famílias. A ONG é referência para ações voltadas à prematuridade e representa o Brasil em iniciativas e redes globais que visam o cuidado à saúde materna e neonatal. A organização desenvolve ações políticas e sociais, bem como projetos em parceria com a iniciativa privada, tais como campanhas de conscientização, ações beneficentes, capacitação de profissionais de saúde, colaboração em pesquisas, aconselhamento jurídico e acolhimento às famílias, entre outras.
* Denise Suguitani É diretora executiva da Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros – ONG Prematuridade.com
Novembro Roxo: campanha reforça a necessidade de cuidados especiais para prematuros
Vencendo a prematuridade
Bebês prematuros devem sempre receber cuidados redobrados
Novembro Roxo: a importância da amamentação para bebês prematuros
Doenças bucais podem levar ao parto prematuro e comprometer a saúde do bebê