Cada vez mais as brasileiras adiam a chegada dos filhos. Com a maternidade mais madura, a amamentação se torna um processo que exige apoio e preparo
Roberta Castro* Publicado em 29/08/2025, às 06h00
O Brasil tem registrado, ano após ano, uma queda no número de nascimentos. Segundo dados do IBGE, em 2021 foram cerca de 2,63 milhões de registros, número que caiu para 2,54 milhões em 2022 — o menor patamar desde 1977. Em 2023, a tendência se repetiu, com 2,52 milhões de registros, consolidando o quinto ano consecutivo de recuo, também como consequência da pandemia de Covid-19 que, na época, mudou o comportamento dos casais, adiando um pouco mais esse sonho.
Além da queda no número total de bebês, chama atenção a mudança no perfil das mães brasileiras. Em 2023, quase 40% dos nascimentos foram de mulheres com 30 anos ou mais. Entre 2018 e 2022, o número de crianças nascidas de mães com mais de 40 anos saltou de 90,9 mil para 106,1 mil. Em duas décadas, o crescimento de nascimentos nessa faixa etária foi de 83%, o maior entre todas as idades maternas. Especialistas apontam que essa tendência está diretamente ligada a um planejamento de vida que inclui maior escolaridade, estabilidade financeira e prioridade dada às carreiras profissionais.
Se por um lado os avanços da medicina reprodutiva tornam possível postergar a maternidade, por outro, essa decisão envolve desafios físicos e emocionais e expõe lacunas no que diz respeito à corresponsabilidade parental e à conciliação entre maternidade e trabalho.
Esse novo cenário também se reflete na forma como a amamentação é vivida. O tema foi destaque na 8ª Mesa Redonda de Amamentação, realizada nesta semana pela Pro Matre Paulista. O encontro reuniu a atriz Mariana Rios, grávida de 6 meses do primeiro filho, as influenciadoras Karine Amâncio e Karla Marques, CEO da Cimed, além da consultora de amamentação da instituição, Cintia Costa. A mediação ficou a cargo da pediatra e neonatologista Dra. Monica Carceles Fráguas, que conduziu um debate sobre os desafios enfrentados pelas gestantes e puérperas.
Durante a conversa, a médica destacou as diferenças entre gerações no ato de amamentar.
“Antigamente, o ato de amamentar era mais instintivo, pois mães e filhas viviam muitas vezes na mesma casa ou próximas. Hoje, as mulheres se realizam também nas suas profissões, e isso precisa ser considerado no processo de amamentação — que já não é tão natural e exige preparo físico e psicológico da gestante”, afirmou.
A fala da especialista evidencia a necessidade de redes de apoio, acompanhamento psicológico, estrutura hospitalar adequada e políticas públicas que contemplem a mulher em toda a sua complexidade.
“Se antes a maternidade era quase sempre precoce e instintiva, hoje é cada vez mais planejada e cercada de expectativas.”, completa Dra. Monica.
A queda no número de nascimentos, o aumento da maternidade tardia e as mudanças no processo de amamentação mostram que a experiência materna no Brasil está em transformação, exigindo novos olhares e cuidados para que as mulheres possam vivê-la de forma plena e saudável como merecem.
*Roberta Castro, autora desta reportagem, é jornalista especialista em jornalismo empresarial e parentalidade neurodivergente
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