Aprender inglês nas escolas é muito mais do que preparar um futuro profissional: é um convite ao desenvolvimento cognitivo e emocional
Ana Paula Yazbek* Publicado em 05/01/2023, às 06h00
Ser alfabetizado na língua de seu país já é a descoberta de um mundo novo, portanto,
podemos dizer que aprender um novo idioma é a oportunidade de apresentar aos
pequenos e pequenas uma visão de mundo completamente diferente, com novas
possibilidades para expressar sentimentos, vontades e ações.
Há algumas décadas, crianças e adolescentes no Brasil eram comumente obrigados a
estudar francês, principalmente por uma questão de comportamento. Afinal, quem falasse esse idioma era considerada uma pessoa distinta quando adulta. Já no século XXI, a força da globalização foi responsável por trazer à tona a importância cada vez maior de se estudar inglês para ser bem-sucedido em diversas áreas do mercado.
Diante desse contexto, muitas famílias buscam os serviços de escolas bilíngues, já
pensando como seu filho ou filha pode ser beneficiada na hora de entrar em uma boa
faculdade e, principalmente, ao chegar ao mercado de trabalho. Por mais que isso tenha lá sua importância e justifique a preocupação dos pais, que naturalmente querem o melhor para suas crianças, é importante que olhemos para os benefícios dessas escolas não apenas considerando o mercado de trabalho que a criança vai entrar daqui tanto tempo, mas percebendo como o aprendizado do inglês pode colaborar com seu
desenvolvimento cognitivo e com o respeito emocional na infância. Além de favorecer o
contato com uma outra cultura e nova forma de se expressar.
Um bom exemplo disso é que muitos adultos têm vergonha de falar inglês com medo de
cometer alguma gafe, ou falar algo errado, principalmente se estão em aulas com outros adultos em estágios mais avançados. Isso é fruto de uma visão equivocada sobre o conhecimento de uma língua estrangeira. Isto é, como não nativos, é evidente que as pessoas falarão com sotaque e cometerão alguns erros. Naturalizamos o fato de
estrangeiros falarem português com "falhas", mas por quê consideramos gafe quando os brasileiros fazem o mesmo?
A situação é diferente para as crianças, já que todas estão no mesmo nível de
aprendizado nas escolas e, consequentemente, tendem a não julgar, ou recriminar
colegas que cometam erros ao falar palavras no outro idioma. Isso gera uma maior
confiança que facilita o aprendizado.
Qualquer estímulo positivo que o cérebro recebe no processo de formação da criança é
importante, ainda mais se considerarmos o processo de alfabetização. Inclusive,
quanto mais atividades o nosso cérebro recebe, mais ele acaba se exercitando e,
consequentemente, com maior rapidez ele se desenvolve. Isso tudo, sem falar no quanto a criança ganha em termos de memorização, já que ela é induzida a decorar palavras e termos novos.
Considerando que o cérebro de uma criança é naturalmente mais apto a fazer conexões, especialmente na fase de alfabetização, cabe também aos familiares aproveitarem esse momento tão importante para apresentar a elas um idioma complementar. É uma maneira de despertar a curiosidade e o entusiasmo da criança, já que ter contato com um novo idioma significa conhecer sons, palavras, expressões e até sentimentos diferentes.
O primeiro desafio de qualquer professor ou professora que entra em um ambiente
escolar- independentemente da idade dos alunos - é despertar o interesse de quem irá
assistir as aulas. E, para um modelo pedagógico que envolve leitura, escrita, audição e
falta, existem muitas estratégias à disposição.
Para favorecer a imersão em uma língua estrangeira, o uso de músicas infantis em
inglês, desenhos, filmes, jogos de perguntas e respostas e mímicas envolvendo o idioma são dicas preciosas. Além disso, a tecnologia pode ser uma grande aliada no ensino do inglês às crianças por meio de games e aplicativos. A interação entre os colegas também é algo importante e essencial para desenvolver o aprendizado.
Embora a importância de se aprender inglês na infância seja um consenso, é necessário
se discutir o objetivo principal disso. Claro que ter uma base para o mercado de trabalho é algo importante, porém, é um erro ensinar para a criança que ela tem a obrigação de aprender aquela língua única e exclusivamente para ter uma boa posição profissional no futuro.
Aprender uma nova língua para se expressar deve ser interpretado como um mapa de
descobertas. Lembre-se sempre que não existe um tempo correto para que os pequenos e pequenas assimilem as palavras estrangeiras e se tornem fluentes em inglês. O importante é que isso ocorra sem tantas pressões e no tempo de cada um.
*Ana Paula Yazbek é pedagoga, formada pela Faculdade de Educação da USP, com especialização em Educação de Crianças de zero a três anos pelo Instituto Singularidades, com mestrado em Educação pela Faculdade de Educação da USP. É Diretora Pedagógica do espaço ekoa, casada com Marcos Mourão com quem tem dois filhos, Marina e Pedro.
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