Mariana Kotscho
Busca
» CONSCIÊNCIA CORPORAL

Corpo, casa da alma: o chamado silencioso da consciência corporal em tempos de desconexão

Terapeuta fala sobre a necessidade de ter consciência corporal e ouvir o corpo em meio aos barulhos da modernidade

Redação Publicado em 11/11/2025, às 06h00

Mulher faz meditação e
De acordo com a fisioterapeuta e terapeuta holística Nanah Libânia, quando o corpo é olhado com respeito e lentidão, o trauma se transforma em consciência. - Foto: Canva Pro

A fisioterapeuta Nanah Libânia destaca a importância da consciência corporal como um meio de reconexão entre o ser humano e sua essência espiritual, afirmando que a verdadeira cura ocorre quando a pessoa se reconhece como um todo.

Ela explica que o corpo comunica emoções e tensões antes da mente, e que a desconexão entre corpo, mente e emoção pode levar a sinais como cansaço constante e respiração curta, indicando a necessidade de cuidado.

Nanah sugere práticas simples para desenvolver a consciência corporal, como respirar conscientemente e prestar atenção ao corpo, enfatizando que o autoconhecimento reside na experiência corporal e não apenas em teorias externas.

Resumo gerado por IA

Vivemos em um tempo de urgências. As telas nos puxam, os prazos nos comprimem, e a mente parece sempre à frente, antecipando o futuro, revivendo o passado, mas raramente habitando o agora. Nesse ritmo acelerado, esquecemos da morada mais sagrada que temos: nosso corpo.

Para a fisioterapeuta e terapeuta holística, Nanah Libânia, desenvolver a consciência corporal é ‘reaprender a sentir-se vivo’. É o caminho que reconecta o humano à sua essência espiritual, permitindo que o corpo volte a ser morada da alma. “A cura verdadeira só acontece quando a pessoa se reconhece por inteiro e não como partes soltas”, afirma ela.

Nanah explica que o corpo é um mensageiro fiel do inconsciente. Antes mesmo que a mente compreenda o que acontece, ele já reage, seja com arrepios, tensões, batimentos acelerados ou suspiros. “Ele capta o que vibra nas emoções e no ambiente, comunicando o que a mente ainda não entendeu. Quando silenciamos o barulho mental, conseguimos ouvi-lo e é aí que começa o processo de cura”, diz.

Veja também

Esses sinais sutis, porém, costumam ser ignorados. A desconexão entre corpo, mente e emoção chega devagar: ombros contraídos, respiração curta, olhar apagado, sono leve, cansaço constante. “É como se a alma estivesse longe da carne. Quando a sensorialidade se apaga, o corpo tenta nos dizer: você se afastou de mim, olha para mim, eu preciso de cuidado”, explica a terapeuta.

A profissional lembra que a consciência corporal começa cedo, ainda na infância. É pelo corpo que a criança descobre o mundo e constrói a noção de ‘eu’ e, para ela,  educar o corpo na infância é ensinar o coração a se reconhecer em cada gesto. É o que permite à criança crescer inteira, mesmo diante das pressões do mundo.

Há momentos em que o corpo fala mais alto, como na gestação, na menopausa e no envelhecimento. Nanah descreve essas fases como portais de transformação: “Na gestação, a consciência corporal ajuda a acolher os desconfortos e os medos. Na menopausa, ela atua como uma bússola, guiando a mulher a reconhecer o novo ritmo do corpo e a transformar essa passagem em sabedoria”, descreve.

Cada músculo, cada tensão, cada respiração guarda histórias. Para Nanah, as práticas holísticas não apagam o passado, mas libertam o corpo para que ele volte a dançar junto com a vida. “Quando o corpo é olhado com respeito e lentidão, ele cede. O trauma deixa de ser uma ferida e se transforma em consciência. O movimento e o respirar se tornam atos de cura”. A consciência corporal, segundo ela, é também um instrumento de prevenção. “Muitos só procuram o corpo quando ele grita, mas a consciência corporal ensina a ouvir os sussurros antes da dor. Ela regula o sistema nervoso, fortalece o equilíbrio interno e amplia nossa percepção de limite. É o maior remédio que existe”.

Nanah reforça que reconectar-se com o corpo não exige grandes técnicas, mas presença e intenção. Ela sugere gestos simples como respirar conscientemente, sentindo o ar expandir e recolher o peito; espreguiçar-se ao acordar, permitindo que o corpo desperte junto com o dia; ouvir músicas suaves, deixando o corpo se mover livremente, sem regras; sentir os apoios do corpo, como está a distribuição do peso do corpo nas solas dos pés, o contato com a cadeira, a textura do ar na pele. “Desenvolver a consciência corporal é voltar a habitar o corpo como templo, e não o visitar apenas quando algo dói”, resume.

Em tempos de ruído e excesso, a terapeuta encerra com um convite simples e profundo: “Antes de buscar respostas, aprenda a ouvir o silêncio entre um pensamento e outro. O autoconhecimento não está em um livro, ele está no corpo que você habita e quase esqueceu de sentir. A cura acontece quando a alma encontra abrigo no corpo outra vez”, finaliza a especialista.

Quer incentivar este jornalismo sério e independente? Você pode patrocinar uma coluna ou o site como um todo. Entre em contato com o site clicando aqui.