Descobrir um câncer metastático me mostrou que o câncer não define minha vida e que o essencial está em como escolhemos viver cada dia
Nara Dutra* Publicado em 02/10/2025, às 06h00
Eu não escolhi ter um câncer. E é óbvio que, se eu pudesse, não escolheria. Mas entendo que, diante da vida, nossas decisões não estão no que queremos, mas em como estamos dispostos a viver cada um dos desafios que atravessam o nosso caminho. Eu precisei estar diante da possibilidade do fim para compreender que o processo é o que realmente importa.
Em maio de 2017, em meio a uma série de exames pré-operatórios para uma plástica, um diagnóstico inesperado... Uma mamografia, seguida de uma biópsia e a notícia: câncer de mama. Dois dias depois, mais um exame para pesquisar a possibilidade de outros tumores no corpo e, com ele, outra notícia difícil: metástase no fígado.
Na época, eu tinha 34 anos e só conseguia pensar: “Como os meus filhos vão crescer sem a mãe?”. Ora pergunta, ora afirmação, ora oração... Foi por eles que eu encontrei forças para seguir em frente e fazer de cada dia uma oportunidade para viver. Essa decisão mudou tudo.
Quando recebi a notícia, sentia que eu estava no meu auge. Recém-casada, mãe de dois filhos pequenos e realizada profissionalmente. Apaixonada pelo trabalho, eu não podia, não queria parar. Mas a vida mudou, e eu também. Aprendi a me reinventar, a enxergar aniversários de outra forma e a entender a gratidão de um jeito muito mais profundo. A descoberta do câncer metastático acabou sendo um combustível para olhar para frente e seguir em busca dos meus objetivos.
Meu maior receio era o impacto que a doença teria na minha carreira. Desenvolvi minha trajetória no mundo corporativo e, quando recebi o diagnóstico, pensei que não haveria espaço para alguém que precisaria de tratamento por toda a vida. Mas fui surpreendida. No Grupo Morana, como head de marketing e e-commerce, eu encontrei todo o apoio que precisava. A empresa respeita a minha rotina de quimioterapia (a cada 21 dias), além dos exames trimestrais. Mais do que resultados, existe um olhar humano. Esse acolhimento me mostrou que meu medo inicial era infundado e tornou realidade o que mais desejei depois do diagnóstico: que o câncer fosse apenas um detalhe.
Essa experiência também transformou meu olhar sobre carreira e liderança. Antes, eu carregava o trabalho como um peso. Hoje, ele é fonte de prazer, de conexão, de crescimento. Não abro mão dos resultados, mas sei que tudo precisa ser leve e saudável, não só para mim, mas para todos. Essa vivência mudou a forma como eu lidero e me relaciono com a minha equipe.
O suporte também veio de casa. Meu maior companheiro é meu marido. Eu sei que muitas mulheres enfrentam o divórcio após o diagnóstico, mas, no meu caso, aconteceu o contrário: o câncer fortaleceu a nossa relação, transformou não só a mim, mas também a forma dele de enxergar a vida e as prioridades.
Para os meus filhos, o câncer também virou parte da rotina da mãe. Minha grande preocupação é estar presente e ter o máximo de tempo de qualidade ao lado deles e, através do exemplo, mostrar para eles que as dificuldades fazem parte da vida, que a forma como encaramos os desafios é importante, que a felicidade está na jornada e nos detalhes.
Já se passaram mais de oito anos desde o diagnóstico. Conciliar carreira, maternidade e tratamento contínuo não é simples, mas me trouxe clareza e força para seguir. Hoje, consigo resumir meu sentimento em um mantra que guia a minha vida:
“O que eu tenho pode não ter cura, mas não quer dizer que eu não vá viver muitos e muitos anos. É para isso que eu luto e, para essa luta, eu tenho os melhores motivos do mundo.”
Em meio aos altos e baixos, escolhi deixar o medo de lado e me permitir ser feliz. Mais do que jamais fui.
*Nara Dutra é gerente de marketing da Morana
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