Nefrologista explica como a doença provocada pelo excesso de glicose no sangue pode danificar os rins, estando entre as principais causas da doença renal crônica
Redação Publicado em 26/06/2023, às 14h00
O Brasil é o sexto país com mais diabéticos no mundo, chegando a 16 milhões de pacientes. Estima-se que até 30% das pessoas que convivem com a doença, acabam sofrendo também algum tipo de lesão nos vasos dos rins. Por isso, a presença de Diabetes está associada a um maior risco de desenvolvimento de doenças dos rins, além de outras complicações.
Quando essas lesões afetam 90% da capacidade de funcionamento dos rins, os pacientes precisam realizar a terapia de diálise – que é quando uma máquina passa a fazer a filtragem do sangue - no mínimo três vezes por semana. Atualmente no Brasil, cerca de 150 mil pessoas fazem essa terapia.
A doença renal crônica é controlada com medicamentos. Apenas quando se atinge a fase 5 da doença, também chamada de terminal, é que os pacientes devem fazer a diálise, e quando possível, um transplante de rim. A glicemia, que é o nível de açúcar no sangue, quando mal controlada, aumenta o risco de morte até mesmo nos pacientes que já estão em diálise. Desse modo, renal crônico ou não, é fundamental que o paciente faça o controle do diabetes com alimentação adequada, ingestão de medicamentos e prática de atividades físicas.
A médica nefrologista, Lecticia Jorge, gerente médica da Fresenius Medical Care, explica que o aumento dos níveis de glicose (ou também conhecido como açúcar ou ainda carboidrato do tipo simples) no sangue acarreta diversas complicações, principalmente lesões vasculares.
“Existem dois tipos de diabetes, a do tipo 1 e a do tipo 2. A mellitus tipo 1 normalmente surge na infância, e é caracterizada por um defeito nas células do pâncreas, que produzem o hormônio chamado insulina. Ele é responsável por levar a glicose para dentro das células. Com a falta da insulina no sangue, os níveis de glicose ficam altos. Porém, a maior parte dos pacientes diabéticos apresentam o tipo 2, que usualmente se manifesta após os 40 anos, e é caracterizado por uma resistência à insulina, o que acaba por também gerar um aumento dos níveis de glicose no sangue”, explica.
Má alimentação, sedentarismo e obesidade contribuem de forma muito relevante para esse aumento da resistência, pois o acúmulo de gordura dificulta a ação do hormônio insulina. Logo, a ingestão exagerada de açúcares e carboidratos – que também se transformam em açúcar no sangue, faz mal. Primeiro, podem vir a obesidade e a resistência à insulina. Mas os problemas vão progredindo à medida que envelhecemos, com complicações mais graves como hipertensão arterial, diabetes, doenças nos rins, nos olhos, no coração e até nos nervos.
De acordo com a médica, os rins sofrem justamente porque o excesso de açúcar no sangue causa inicialmente uma hiperfiltração, que vai progressivamente lesionando os vasos sanguíneos, reduzindo, com o passar do tempo, a capacidade de filtração dos rins.
Alimentos com alto índice glicêmico, ou seja, que geram picos de glicose no sangue, como farinhas brancas, batata e açúcar refinado são responsáveis por jogar rapidamente na circulação sanguínea grandes quantidades de glicose. Com isso, geram a necessidade de uma liberação rápida de muita insulina para colocar esse excesso de glicose para dentro das células e, muitas vezes, esse excesso será convertido em gordura. Importante notar que, após esse pico de insulina e a entrada da glicose para célula, essa queda pode gerar fome e vontade de comer mais carboidratos de índice glicêmico alto”, afirma.
Assim, a obesidade e a resistência à insulina vão sendo desenvolvidas. Para o rompimento desse círculo vicioso e maléfico, é necessária uma alimentação saudável, com uma dieta rica em alimentos cuja absorção dos carboidratos é mais lenta, evitando assim os picos de insulina, como fibras, verduras e legumes de baixo índice glicêmico. E a prática regular de exercícios físicos. “Estes são os aliados mais importantes”, afirma.
O diabético também é mais propenso à desidratação, a infecções e ao desenvolvimento de cetoacidose - estado grave no qual o corpo produz ácidos sanguíneos em excesso, o que o deixa mais predisposto à insuficiência renal aguda. “Mas é importante lembrar também que a maior parte das pessoas com diabetes não desenvolvem a insuficiência renal crônica. Tem que se cuidar, porque ninguém sabe quem vai desenvolver, o risco existe para todos os diabéticos”, lembra a médica.
Sintomas pra ficar de olho
Entre os sintomas mais comuns do diabetes estão o aumento e a frequência do volume urinário, sede exagerada e visão turva. Mas qualquer tipo de diabetes mellitus pode evoluir silenciosamente nas suas fases iniciais, sendo ainda mais comum no diabetes tipo 2.
O que as pessoas com diabetes podem fazer para prevenir a insuficiência renal?
Para quem já tem a insuficiência renal crônica, é recomendável controlar os níveis glicêmicos por exames de sangue de glicemia e hemoglobina glicada, ou por medidas de dextro – que consiste numa medição feita em casa, a partir de uma gota de sangue colhida na ponta dos dedos. Assim, permite o ajuste correto da medicação para controle do diabetes.
A maioria dos indivíduos em tratamento dialítico necessita usar insulina em doses fracionadas para o controle do diabetes. Muitas vezes é necessário utilizar dois tipos de insulina, uma de ação rápida e outra de ação lenta. “Alguns dos medicamentos orais, chamados hipoglicemiantes orais, não podem ser usados por pessoas que fazem diálise. Sempre tem que perguntar para o médico quais medicamentos podem ser usados”, reforça a médica.
A dieta é muito importante no controle da diabetes. O ideal é consumir uma variedade de alimentos saudáveis de todos os grupos alimentares, priorizando sempre os alimentos frescos e in natura.
De acordo com a coordenadora de Nutrição, Raquel Carreiro, da Fresenius Medical Care, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, não é necessário deixar de comer os alimentos preferidos para manter a glicemia adequada. “Mas é importante que o nutricionista faça uma avaliação individualizada para orientar sobre as quantidades e frequência no consumo de alguns alimentos”
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