Larissa Eloi da dicas para mães de como ter tempo para cuidar dos filhos e da carreira
Estamos em um momento bastante especial e propício para levantar o assunto sobre o valor da representatividade das mulheres, não apenas no âmbito profissional, mas em todos os segmentos.
Iniciativas de empoderamento da força feminina precisam extrapolar a sazonalidade e ampliar as áreas de discussão. Diversidade e inclusão são desafios que, para serem superados, precisam estar no topo dos objetivos estratégicos das empresas de forma genuína, a fim de serem sustentáveis e transformacionais.
A pesquisa “Acelerando o Futuro das Mulheres nos Negócios”, da consultoria KPMG, realizada em 2020, com 700 participantes do KPMG Women’s Leadership Summit, mostrou que 56% das executivas temem que as pessoas ao seu redor não acreditem que elas são tão capazes quanto se espera que sejam. Vale destacar também que 81% das entrevistadas acreditam que colocam mais pressão em si mesmas para não fracassar do que os homens.
Quando ampliamos a reflexão para o cenário da maternidade, as adversidades são ainda maiores. Enfrentar reuniões depois de noites mal dormidas, ausentar-se para acompanhar os filhos em consultas médicas, sair mais cedo para ver o teatro da escola e colocá-los para dormir em suas camas são desafios constantes no mundo materno. Seria possível dar conta de tudo, sem abrir mão do controle?
Conciliar maternidade com uma carreira de sucesso, sem percalços, é uma missão desafiadora. Aliás, abrir mão do controle é um dos aprendizados que vem com a educação de um filho.
Quais outras habilidades profissionais podemos aprender com a busca do equilíbrio da carreira e maternidade?
No ano de 2023, tornei-me diretora-executiva do SindHosp. A primeira mulher a ter oportunidade de assumir tal cargo, depois de 85 anos de instituição. Inspirada nas minhas reflexões pessoais e profissionais ao alcançar este feito, compartilho sete dicas para conciliar carreira e maternidade. Confira:
- VULNERABILIDADE: de acordo com a pesquisadora estadunidense, Brené Brown, a vulnerabilidade é o medidor da coragem de uma pessoa. Este sentimento mostra o quanto alguém está disposto a se entregar ao imprevisível, de se arriscar sem saber qual será o resultado, de aceitar que não temos respostas para tudo. A maternidade é um processo vulnerável. Ao aceitá-la, devemos dividir as próprias vulnerabilidades com os filhos e com todos que nos rodeiam, criando, assim, conexões verdadeiras. Este autoconhecimento traz um olhar mais cuidadoso consigo e com os outros e nos possibilita acolher o imperfeito, seja buscando ser uma melhor profissional ou uma melhor pessoa.
- EQUILÍBRIO: muitos são os papéis da mulher mãe e executiva. O segredo desta mistura está na dose: saber delegar e nos desafiar na gestão do tempo e na intensidade das ações. A peça fundamental da maternidade está no equilíbrio da liberdade e autonomia. Meu filho tem 9 anos e está no momento de querer fazer tudo sozinho. Em muitos momentos, ele vai se machucar; em outros, vai conseguir fazer o que quer. Aprendo com ele todos os dias nesta dose de liberdade dentro dos limites para que ele não se traumatize, criando incentivos e “ferramentas” para que possa construir seu mundo sozinho. Quando falamos em gestão de equipes, essa mentalidade é aplicável. De que adianta saber os caminhos mais eficazes, mas querer fazer tudo do nosso jeito? Elas precisam receber um direcionamento e, então, chegar sozinhas ao “como” para executar as próprias jornadas.
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- PLANEJAMENTO: ter metas pessoais e profissionais fará diferença na velocidade dos seus sonhos. Nunca perca de vista o que desejava quando criança e ensine aos filhos o valor de amar o que faz. Assim, eles sempre entenderão as suas faltas, pois elas existirão pelo caminho da maternidade imperfeita.
- COMUNICAÇÃO ASSERTIVA: transparência e cuidado são a base de uma comunicação saudável, seja no âmbito pessoal ou profissional. A maternidade nos ensina que nem sempre temos a resposta para tudo e nos faz aprender a ter a humildade de assumir quando erramos. Portanto, fale a verdade. Seja sincera consigo e com os outros! E fica um lembrete diário de que a melhor forma de ensinar nossos filhos a serem eles mesmos é sendo nós mesmas: humanas, imperfeitas, mas os amando incondicionalmente.
- COLABORAÇÃO: arriscaria afirmar que quase nenhuma mãe sobreviveria sem uma rede de apoio. E nenhuma executiva cresce sem um modelo de negócio colaborativo. Cultive bons relacionamentos e esteja atenta a identificar as melhores pessoas que a ajudarão nas horas mais improváveis. Precisamos também sempre cuidar daqueles que nos apoiam e nos impulsionam na nossa carreira. Mas fica um alerta: relacionamento dá trabalho! Cuide destas relações no dia a dia, nos momentos alegres e tristes, para que possam se tornar duradouras.
- CORAGEM: o papel mais complexo da maternidade é encorajar nossos filhos a superar os desafios que a sociedade impõe. Assim como para nós, adultos, é preciso ter uma escuta aberta para ouvir as dores e necessidades deles e contribuir para que sejam protagonistas de suas vidas pessoal, profissional e econômica. Assim, eles construirão o próprio repertório intelectual e alcançarão posições estratégicas na sociedade. Isso também serve para nossos liderados.
- HUMILDADE: uma das maiores riquezas que uma mãe pode passar aos seus filhos é ensinar que, para crescermos profissionalmente, não precisamos passar por cima de ninguém. Mas é uma pena que muitos não pensem assim. Porém, temos uma possibilidade de mudar o futuro dos nossos filhos e podemos motivá-los a lutar e construir um mundo mais igualitário, diverso e respeitoso.
Cabe a nós, mulheres profissionais e mães, termos um olhar sistêmico das adversidades que devem ser superadas e de como devemos atuar para realmente atender às necessidades das pessoas ao nosso redor.
E se formos analisar, nas últimas décadas, é perceptível uma mudança no perfil dos profissionais, coincidindo com a forte presença feminina! Será mesmo uma coincidência?
*Larissa Eloi é executiva, graduada em administração com pós graduação em Gestão de pessoas e de projetos. Atual CEO do SindHosp- Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios Do Estado de SP, é a primeira mulher a ocupar este cargo em 85 anosde existência da entidade.