Terapeuta fala sobre a necessidade de ter consciência corporal e ouvir o corpo em meio aos barulhos da modernidade
Redação Publicado em 11/11/2025, às 06h00
Vivemos em um tempo de urgências. As telas nos puxam, os prazos nos comprimem, e a mente parece sempre à frente, antecipando o futuro, revivendo o passado, mas raramente habitando o agora. Nesse ritmo acelerado, esquecemos da morada mais sagrada que temos: nosso corpo.
Para a fisioterapeuta e terapeuta holística, Nanah Libânia, desenvolver a consciência corporal é ‘reaprender a sentir-se vivo’. É o caminho que reconecta o humano à sua essência espiritual, permitindo que o corpo volte a ser morada da alma. “A cura verdadeira só acontece quando a pessoa se reconhece por inteiro e não como partes soltas”, afirma ela.
Nanah explica que o corpo é um mensageiro fiel do inconsciente. Antes mesmo que a mente compreenda o que acontece, ele já reage, seja com arrepios, tensões, batimentos acelerados ou suspiros. “Ele capta o que vibra nas emoções e no ambiente, comunicando o que a mente ainda não entendeu. Quando silenciamos o barulho mental, conseguimos ouvi-lo e é aí que começa o processo de cura”, diz.
Esses sinais sutis, porém, costumam ser ignorados. A desconexão entre corpo, mente e emoção chega devagar: ombros contraídos, respiração curta, olhar apagado, sono leve, cansaço constante. “É como se a alma estivesse longe da carne. Quando a sensorialidade se apaga, o corpo tenta nos dizer: você se afastou de mim, olha para mim, eu preciso de cuidado”, explica a terapeuta.
A profissional lembra que a consciência corporal começa cedo, ainda na infância. É pelo corpo que a criança descobre o mundo e constrói a noção de ‘eu’ e, para ela, educar o corpo na infância é ensinar o coração a se reconhecer em cada gesto. É o que permite à criança crescer inteira, mesmo diante das pressões do mundo.
Há momentos em que o corpo fala mais alto, como na gestação, na menopausa e no envelhecimento. Nanah descreve essas fases como portais de transformação: “Na gestação, a consciência corporal ajuda a acolher os desconfortos e os medos. Na menopausa, ela atua como uma bússola, guiando a mulher a reconhecer o novo ritmo do corpo e a transformar essa passagem em sabedoria”, descreve.
Cada músculo, cada tensão, cada respiração guarda histórias. Para Nanah, as práticas holísticas não apagam o passado, mas libertam o corpo para que ele volte a dançar junto com a vida. “Quando o corpo é olhado com respeito e lentidão, ele cede. O trauma deixa de ser uma ferida e se transforma em consciência. O movimento e o respirar se tornam atos de cura”. A consciência corporal, segundo ela, é também um instrumento de prevenção. “Muitos só procuram o corpo quando ele grita, mas a consciência corporal ensina a ouvir os sussurros antes da dor. Ela regula o sistema nervoso, fortalece o equilíbrio interno e amplia nossa percepção de limite. É o maior remédio que existe”.
Nanah reforça que reconectar-se com o corpo não exige grandes técnicas, mas presença e intenção. Ela sugere gestos simples como respirar conscientemente, sentindo o ar expandir e recolher o peito; espreguiçar-se ao acordar, permitindo que o corpo desperte junto com o dia; ouvir músicas suaves, deixando o corpo se mover livremente, sem regras; sentir os apoios do corpo, como está a distribuição do peso do corpo nas solas dos pés, o contato com a cadeira, a textura do ar na pele. “Desenvolver a consciência corporal é voltar a habitar o corpo como templo, e não o visitar apenas quando algo dói”, resume.
Em tempos de ruído e excesso, a terapeuta encerra com um convite simples e profundo: “Antes de buscar respostas, aprenda a ouvir o silêncio entre um pensamento e outro. O autoconhecimento não está em um livro, ele está no corpo que você habita e quase esqueceu de sentir. A cura acontece quando a alma encontra abrigo no corpo outra vez”, finaliza a especialista.
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