A vida imita a arte: novela “Três Graças” alerta para o risco dos medicamentos falsificados

Novo folhetim da Rede Globo traz à tela um alerta sobre os perigos dos medicamentos falsificados — um drama que ultrapassa a ficção

Alexandre de Morais* Publicado em 12/11/2025, às 06h00

Na novela, a falsificação de medicamentos resulta em tragédias, tal qual acontece na vida real - Foto: Canva Pro

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A novela “Três Graças”, da Rede Globo de Televisão, trouxe para o centro da trama um tema urgente e vital: o perigo dos medicamentos falsificados. Na ficção, a ganância de empresários da indústria farmacêutica chega a extremos, resultando em tragédias provocadas pela circulação de remédios adulterados. Mas o enredo, embora dramatizado, reflete com inquietante fidelidade uma ameaça real que hoje paira sobre a população brasileira.

Na vida real, o problema é ainda mais grave. O Sistema Nacional de Controle de Medicamentos (SNCM), criado em 2009, previa a rastreabilidade completa dos medicamentos — da fábrica até o consumidor final — e também a logística reversa das embalagens e produtos descartados. Era um avanço crucial para a segurança do paciente e para o combate ao mercado ilegal de remédios.

Entretanto, a pressão de parte da indústria farmacêutica nacional conseguiu derrubar a obrigação de implantar o SNCM, substituindo-a pela chamada “Lei da Bula Digital” (Lei 14.338/22). Essa lei, ao eliminar a bula impressa que acompanha a medicação, enfraqueceu o controle de rastreabilidade e, consequentemente, fragilizou o Sistema Nacional de Controle de Medicamentos.

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A medida foi aprovada em regime de urgência no Congresso, praticamente sem debate público. O resultado foi a fragilização da rastreabilidade e do controle de remédios, abrindo brechas para falsificações, desvios e contrabando — um cenário que coloca em risco a saúde da população.

O Sistema Nacional de Controle de Medicamentos previa um acompanhamento preciso, da saída da indústria até o consumidor — caixinha por caixinha — e, uma vez fragilizado, propicia um controle muito ruim da origem e destino dos medicamentos.

Enquanto na ficção a ganância é usada como recurso dramático, no mundo real ela pode ser mortal. A retirada da bula impressa e o enfraquecimento da rastreabilidade representam a perda do direito à informação e ao controle de medicamentos, pilares da segurança do paciente.

Sem o SNCM funcionando plenamente, o país fica vulnerável a crimes de falsificação e ao comércio ilegal de medicamentos roubados. Estamos diante de um cenário perigoso: um sistema que custou décadas de estudos e recursos públicos foi desmontado em nome de interesses econômicos.

Casos recentes, como o do uso indevido de medicamentos falsificados — inclusive os similares às chamadas “canetas emagrecedoras” — reforçam a urgência do debate sobre controle e segurança dos fármacos.

Na dramaturgia, a atriz que interpreta a personagem volta no dia seguinte para gravar um novo capítulo. Na vida real, quem toma um remédio falsificado pode não voltar para casa. E, entre essas vítimas, podem estar até crianças.

A novela “Três Graças” presta um verdadeiro serviço público ao alertar sobre algo que já acontece fora da ficção. O perigo é real, e a sociedade precisa exigir transparência e responsabilidade de todos os elos da cadeia farmacêutica.

*Alexandre de Morais é advogado e coordenador do Movimento Exija Bula

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