Veja a entrevista com pedagoga Ana Paula Yazbek sobre o impacto do distanciamento das escolas para as crianças
Raphael Preto Pereira* Publicado em 03/10/2022, às 06h00
Depois de dois anos de pandemia, as escolas reabriram. Mas isso não durou muito tempo. Em julho deste ano, o recesso escolar voltou a afastar os estudantes fisicamente do espaço escolar.
Mesmo quando não havia pandemia, o período do recesso era acompanhado com atenção pelas instituições de ensino, as escolas sempre temeram perdas de aprendizado com a pausa nas aulas.
Não à toa, as instituições de ensino nessa época de recesso investem na organização de cursos de férias e atividades que pudessem manter e reforçar as relações entre estudantes e colégios. Na rede pública, as dificuldades foram mais práticas.
Considerando que, para as crianças que estudam em escola pública, a única alimentação é oferecida nas escolas, foi preciso encontrar formas de continuar entregando a merenda para os estudantes.
Mas e as escolas particulares, como lidaram com o recesso escolar, e com a necessidade de manter contato com todos os estudantes?
O site Mariana Kotscho entrevistou Ana Paula Yazbek, pedagoga e diretora do espaço Ekoa, para falar sobre as especificidades de um recesso no meio do ano depois de dois anos de pandemia:
P: Qual a diferença de um recesso escolar que acontece em meio a uma pandemia?
R: O recesso escolar sempre se configurou como um momento de pausa, entre um ano e outro para a transição de turma. Um momento marcado pelo crescimento das crianças. O recesso ocorrido durante a pandemia, se configurou como uma suspensão, marcada por incertezas. Ninguém sabia prever qual seria a duração e nem como seria o retorno, ou como se dariam os contatos entre as crianças, após o período de afastamento.
P: Percebeu-se um impacto para as crianças do ponto de vista da socialização após a volta do recesso?
R: Na educação infantil, foi possível notar um estranhamento maior das crianças em estarem em contato com outras pessoas e terem que compartilhar de espaços coletivos. Muitas crianças apresentaram atrasos, ou dificuldades na comunicação oral e um maior retraimento no estabelecimento de contatos interpessoais.
Em toda escolaridade, além dos atrasos nos processos/percursos de aprendizagem, também foram notáveis impactos nas relações entre as crianças, aumento de ansiedade, além de dificuldade em manter foco e concentração.
P: Quais as estratégias que foram usadas, durante o recesso, para garantir que fossem mantidos os vínculos com os estudantes?
R: Na educação infantil, mantivemos o vínculo com as crianças a partir de encontros virtuais síncronos e assíncronos. O maior foco era na continuidade da presença e na possibilidade de oferecer a ampliação de repertórios de brincadeiras, livros literários, canções e vivências com materiais gráficos e plásticos.
P:Como os pais foram orientados a estimular os filhos em casa durante o recesso escolar?
R: As famílias tiveram que se ocupar de muitas demandas para além de seus trabalhos cotidianos (fossem profissionais ou domésticos) e de todo o cuidado com seus filhos. Nossas orientações sempre foram no sentido de ajudá-las a manter interação e presença de qualidade com as crianças, incluindo-as no cuidado com a casa e incentivando-as em brincadeiras que envolvessem ações físicas e criação de enredos. Acho importante dizer que considero que a ideia de estímulo, muitas vezes, denota a intenção de que as crianças são convocadas a realizar algo externo e vinculado a uma conquista que não fazem tanto sentido para elas.
Gosto mais de pensar que buscamos maneiras de ajudar as famílias no incentivo a algumas conquistas sejam elas motoras, ou na articulação do discurso oral, ou lúdicas, ou de ações de autonomia e autocuidado
P:O que ficou de aprendizado durante a pandemia?
R: Creio que um grande aprendizado foi a atenção ao convívio e à necessidade de se cuidar das relações interpessoais.
*Raphael Preto Pereira é jornalista
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