Pesquisa mostra que 31% dos pais afirmam que suas crianças estão preocupadas com sustentabilidade e 33% com o futuro do planeta
Redação Publicado em 06/11/2024, às 11h00
De acordo com uma pesquisa quantitativa inédita realizada pela Bebok, em parceria com o Studio Ideias e o espaço ekoa, escola localizada em São Paulo, um terço das crianças brasileiras está preocupado com a crise climática e com o futuro que os adultos estão construindo para elas.
Essa percepção é compartilhada por mil adultos, pais e mães de crianças entre 6 e 12 anos de todo o país, que participaram da coleta de dados. O estudo completo, intitulado “O Mundo que Sei”, também incluiu uma pesquisa etnográfica com 170 crianças de cinco regiões de São Paulo, liderada pela antropóloga Adriana Friedmann.
Composta por pesquisadores e pedagogos, sua equipe visitou escolas de diferentes contextos socioeconômicos: Comunidade Indígena Guarani Tekoa Pyau; Escola Municipal Amorim Lima; Wish School, em Tatuapé, na Zona Leste; a Comunidade Horizonte Azul; e o Lar das Crianças, na Zona Sul. Ana Paula Yazbek, mestre em educação e diretora do espaço ekoa, destaca que as crianças estão cada vez mais ansiosas em relação às mudanças climáticas, o que reforça os dados recentes das pesquisas.
"Percebemos, especialmente entre as crianças de 6 a 12 anos, uma crescente preocupação com o impacto dessas mudanças, tanto para o meio ambiente quanto para sua própria saúde", comenta Yazbek.
Ela menciona exemplos recentes que intensificaram essa ansiedade, como as fortes chuvas no Rio Grande do Sul e o temporal em São Paulo no dia 11 de outubro. "Além disso, no final de setembro, São Paulo registrou a pior qualidade do ar do mundo, o que aumentou ainda mais a apreensão das crianças", acrescenta.
Na etapa da pesquisa quantitativa, 31% dos pais e mães participantes afirmaram que seus filhos estão preocupados com a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. Além disso, 33% demonstraram preocupação com o futuro do planeta, enquanto 17% indicaram que esse público tem interesse em temas como aquecimento global e crise climática. “Uma mãe nos contou que sua filha não quer usar produtos de marcas que fazem testes em animais, por exemplo. Muitos pais se assustam positivamente com o conhecimento dos pequenos, parece que eles já entenderam algo que muitos de nós, adultos, ainda estamos aprendendo” conta Camila Holpert, fundadora do Studio Ideias.
Além dos dados relacionados a questões ambientais, as crianças também estão atentas às eleições: 12% por cento dos pais relataram que seus filhos já tentaram convencer alguém da família sobre suas convicções políticas.
As pesquisas também abordam a importância e diversidade das famílias, relevância das instituições de ensino em uma realidade de fácil acesso à informação, violência, abertura para o diferente e saúde mental no pós-pandemia. “Precisamos apurar nossos olhares para essa infância, aprender a reconhecer suas peculiaridades, desejos e anseios para saber como dialogar da forma correta. E isso não tem sido simples. O que percebemos na pesquisa é uma geração completamente diferente das anteriores e pais perdidos.
Essas crianças têm um alto nível de consciência dos problemas do mundo porque têm acesso a informações e desinformações sem nenhum filtro. O problema é que isso acaba sobrecarregando-as e se convertendo em ansiedade. O mundo não está fácil para elas”, completa Fabio Guedes, sócio da Bebok.
Para se ter uma ideia, 62% dos pais relatam que as crianças já sofreram algum tipo de agressão, e 60% afirmam que seus filhos vivenciaram alguma forma de violência nas escolas. O bullying é a agressão mais frequente entre as crianças, com 29% dos pais relatando que seus filhos já foram vítimas dessa prática.
De acordo com o estudo, o ranking das principais preocupações dos pais atualmente revela que 32% se preocupam com a violência nas ruas, 20% com o bullying, 7% com acidentes domésticos e 6% com a violência doméstica Os dados levantados pelas pesquisas deu origem ao projeto "O Mundo Que Sei", que inclui uma série documental e uma série de podcast com o mesmo nome.
Os conteúdos estão disponíveis no site e YouTube do projeto e nas plataformas de áudio, além do catálogo do Canal Futura no Globoplay e no Cultura Play. Para obter mais informações sobre 'O Mundo que Sei', acesse o link.
O mundo que sei é uma plataforma multimídia permanente - com conteúdos digitais, série documental e podcast - que investiga, organiza e divulga, de forma inédita, o que pensam crianças de 6 a 12 anos sobre o mundo contemporâneo. Tem o objetivo de compreender a infância dos dias de hoje a partir da perspectiva delas e considerá-las nas trocas e nos debates que têm surgido em diferentes esferas da sociedade. Os conteúdos são espontâneos e derivados de uma pesquisa etnográfica realizada com 170 crianças de cinco territórios com diferentes perfis culturais e socioeconômicos da cidade de São Paulo.
O trabalho foi realizado a partir da metodologia de escuta sensível, que se propõe a estabelecer um diálogo horizontal com esse público. “A escuta sensível inclui múltiplos encontros nos quais os pesquisadores ou educadores constroem, gradualmente, conexões com as crianças, observando seus interesses, conversas e preferências de brincadeira para formular propostas com base no que elas expressam”, explica a antropóloga Adriana Friedmann.
A proposta do podcast é um pouco diferente. A voz das crianças entra como ponto de partida para uma conversa entre adultos. Cada um dos nove episódios trata de um tema específico. Os convidados e as convidadas começam a conversa, mediada pela jornalista Giuliana Bergamo, depois de escutar trechos de depoimentos das meninas e dos meninos que participaram da gravação do documentário.
"As crianças que participaram do projeto falam não apenas sobre elas, mas sobre nós, adultos. No podcast, abrimos esse diálogo para pensar o nosso presente e o futuro do planeta e da humanidade", diz a Giuliana, que também é diretora de conteúdo de OMQS.
Com duração média de 35 minutos, os episódios tratam de: ideias de futuro; afetos e brincadeiras; o papel da escola nos dias de hoje; cidades para crianças; saúde mental; família; diversidade; tecnologia e experiências virtuais; e violência.
Entre as pessoas convidadas estão as psicanalistas Ilana Katz e Julieta Jerusalinsky; os educadores Reinaldo Nascimento (pedagogia de emergência), Marcos Mourão (espaço ekoa) e Lucilene Silva (Oca, Casa Redonda e OMQS); a musicista Renata Mattar; as escritoras Trudruá Dorrico e Janaína Tokitaka e o escritor e ilustrador Caco Galhardo; a consultora em diversidade e antirracismo Ellen Souza; a influenciadora digital Pepita; o secretário de cultura de Jundiaí Marcelo Peroni; a arquiteta e urbanista Ursula Troncoso; e a diretora da ONG Childhood Laís Perreto.
A brincadeira e o universo de fantasia são as linguagens por meio das quais as crianças melhor se manifestam. Pensando nisso, a série documental foi criada a partir de uma estrutura narrativa de ficção. A personagem Solo, uma inteligência alienígena, viaja 50 anos-luz para conhecer melhor o planeta que identificou durante um sonho: a Terra. Chega aqui em sua base, encarnada em uma televisão dos anos 1970. É pelo aparelho que ela se comunica com as crianças, pedindo que respondam a pergunta: que mundo é este?
A ficção acaba aí, mas a fantasia continua. Em dinâmicas (brincadeiras, jogos, entrevistas e mesas de discussão), meninos e meninas dão depoimentos reais sobre meio ambiente, diversidade, justiça, respeito, tecnologia, saúde mental, afetos, relacionamentos, entre muitos outros assuntos que permeiam os episódios.
“Nossa grande referência foi o filme Solaris, de Andrei Tarkovski, sobre um planeta distante que se comunica de uma forma quase onírica com os humanos. Inspirados neste clássico, criamos um dispositivo fictício, a base espacial do planeta Solo. Ali, em um ambiente de fantasia e brincadeira, elas puderam se expressar de maneira espontânea, autêntica e, portanto, documental”, conta Victor Ribeiro, diretor.
A série foi produzida pela Social Docs, tem direção de Victor Ribeiro, roteiro de Gisele Mirabai e é uma realização de Henry Grazinoli, com produção executiva de Vera Haddad e Marcelo Douek.
"Nosso grande desafio foi criar uma linguagem única, atual e que mantivesse, no audiovisual, a leveza própria das crianças para tratar de assuntos tão sérios e, muitas vezes, pesados. Acho que conseguimos!", afirma Henry Grazinoli. Sobre o espaço ekoa
O espaço ekoa, reconhecido como escola inovadora e de referência em educação integral, atende a Educação Infantil e o Ensino Fundamental. O espaço físico é parte integrante do projeto pedagógico da escola e um importante diferencial. As atividades são realizadas prioritariamente ao ar livre e as crianças podem se apropriar de todos os ambientes com segurança e responsabilidade. As turmas são multietárias e não existem salas de aulas definidas, o que estimula a cooperação entre as crianças e contribui para que elas construam relações que podem durar a vida inteira.
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