A meningite pode ser fatal e a vacinação em dia é a melhor forma de prevenção
Cristiana Meirelles* Publicado em 19/10/2022, às 06h00
Nascido há cerca de 50 anos, o PNI - Programa Nacional de Imunizações - sempre foi referência mundial de eficácia na prevenção e, até mesmo, erradicação de doenças com alto grau de contaminação. Contudo, se por um lado o Brasil era tratado como exemplo por outras nações, nos últimos anos, em especial após a chegada do SARS-CoV2 (Covid-19) em solo canarinho, temos observado que estamos nadando contra a maré.
De acordo com dados do Instituto Butantã e DATASUS (Ministério da Saúde), de 2012 para cá o país tem registrado queda atrás de queda na cobertura vacinal, em especial entre bebês e crianças, por natureza mais frágeis e suscetíveis, uma vez que ainda não possuem um sistema imunológico maduro para a proteção do organismo.
Com uma taxa histórica de população vacinada em torno de 90% do total na média nacional, em 2016 observamos a primeira queda brusca, chegando à marca de apenas 50%. Hoje, a imunização contra doenças como meningite e poliomielite não estão no mínimo necessário para garantir a segurança da população. Logo, o risco de aumento de surtos de doenças que estavam controladas (ou com os índices de contaminação estáveis) há mais ou menos 30 anos é iminente. Na Bahia, por exemplo, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), até julho deste ano, apenas 62,9% das crianças tinham sido imunizadas contra a meningite meningocócica, sendo que a meta é alcançar 95% do público-alvo até o final do ano.
Já de acordo com dados da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, a região paulista registrou 10 mortes causadas por meningite meningocócica. Mas o que há de tão terrível nessa doença? Explico: a meningite nada mais é que uma inflamação nas chamadas meninges, que são três membranas que protegem todo o sistema nervoso central, formado pelo encéfalo e medula espinhal. Contudo, os sintomas variam de acordo com a causa.
Se a enfermidade se desenvolve por causa viral, o risco de morte geralmente é menor e os sintomas são mais brandos, lembrando uma gripe mais chata: febre, dor de cabeça, um pouco de rigidez da nuca, falta de apetite e irritação. Agora, se a origem for bacteriana, como pelas bactérias Neisseria meningitidis (meningococo), Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e Haemophilus influenzae, o quadro muda e se torna extremamente perigoso. O tempo entre contaminação e sinais físicos é bastante curto, e os pacientes podem experimentar sintomas como febre alta, mal-estar, vômitos, dores fortes de cabeça e no pescoço, dificuldade para encostar o queixo no peito, fotofobia e, às vezes, manchas vermelhas espalhadas pelo corpo. Em casos mais graves, pode haver convulsões e até mesmo levar o paciente ao coma. Tudo isso indica que a infecção está se alastrando rapidamente pelo organismo e pode levar ao óbito.
Na prática, pessoas de qualquer faixa etária estão vulneráveis a contrair meningite, mas crianças com menos de 5 anos acabam sendo as mais afetadas. Isso porque a negligência em relação à imunização ativa impede que o organismo crie anticorpos para combater doenças, e os pequenos ainda não tiveram tempo para desenvolver essas “barreiras” que os protegeriam naturalmente.
Mas engana-se quem pensa que apenas o público infantil deve ser vacinado. Quando começamos a notar surtos de doenças - como os de agora -, jovens e adultos também precisam tomar doses de reforço, a fim de mitigar a evolução da transmissão e as chamadas mutações, que tornam as bactérias super resistentes.
O uso de “antibióticos”, hoje receitados em excesso, é outro ponto de atenção no caso da meningite bacteriana. Os microorganismos se reproduzem extremamente rápido, o que aumenta as chances de se tornarem resistentes. Um antibiótico prescrito de forma equivocada pode matar as bactérias boas de nosso organismo (como as que compõem a microbiota intestinal), enquanto as mutantes prevalecem intactas.
Ainda que a vacinação seja o principal fator preventivo, há outras medidas importantes que precisam ser tomadas. Dentre elas, destaco a higienização correta e frequente das mãos, especialmente após troca de fraldas e idas ao banheiro; seguir utilizando máscaras ou, pelo menos, cobrir a boca ao tossir ou espirrar e manter os ambientes sempre ventilados e com boa circulação de ar.
Entendo que, no pós-pandemia, o movimento “antivacina” se tornou mais forte, espalhando pânico e desinformação em grande parte da população. Os dados são alarmantes e reforçam: a saúde não deve ser colocada de escanteio. Precisamos estar atentos. Para auxiliar nessa missão, deixo aqui uma ferramenta grátis e acessível à população, para checagem das cadernetas de vacinação.
As vacinas são seguras e sempre aprovadas por órgãos reguladores, como a Anvisa. Logo, ignorem as fake news e vacinem-se!
*Cristiana Meirelles é pediatra infectologista e gerente médica da Beep Saúde, health tech - líder em saúde domiciliar
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